Muito se tem falado sobre liquidez, risco, perfil do investidor e taxas de retorno das aplicações financeiras.
Porém, pouco se tem falado sobre o retorno real dessas aplicações ao longo do tempo, que é o que realmente importa no final das contas.
O retorno real corresponde ao retorno dessas aplicações descontada a inflação do período. Uma vez que a inflação absorve parte dos ganhos nominais das aplicações e, portanto, parte do poder aquisitivo destas.
Para se calcular o retorno real das aplicações é preciso entender qual o juro real de cada aplicação, ou seja, é preciso descontar a inflação do retorno de uma aplicação. Por exemplo, se a taxa Selic que é paga nas aplicações indexadas ao CDI é de 14% ao ano, e a inflação esperada para o mesmo período é de 6% ao ano, então a taxa de juros real será de 7,56% ao ano.
Para facilitar o cálculo do juro real, pode-se dizer que o juro real do exemplo seria da ordem de 8% = 14% (CDI) – 6% (inflação).
Outro retorno que costuma ser ignorado no momento da escolha das aplicações financeiras é o dos juros compostos da aplicação, também conhecido como juros sobre juros. Leia mais neste artigo (De grão em grão: potencializando os juros compostos).
Quando se aplica dinheiro, os rendimentos vão acontecendo sobre saldos cada vez maiores que incorporam os rendimentos anteriores. O quadro abaixo mostra como os rendimentos mensais reais são crescentes em uma aplicação de R$ 100 mil, a uma taxa real de 8% ao ano.
Mês | 1º ano | 5º ano | 10º ano | 25º ano |
Janeiro | 417 | 528 | 709 | 1.718 |
Fevereiro | 502 | 636 | 854 | 2.070 |
Março | 505 | 639 | 858 | 2.080 |
Abril | 507 | 642 | 863 | 2.091 |
Maio | 510 | 645 | 867 | 2.101 |
Junho | 512 | 649 | 871 | 2.112 |
Julho | 515 | 652 | 876 | 2.122 |
Agosto | 517 | 655 | 880 | 2.133 |
Setembro | 520 | 658 | 884 | 2.143 |
Outubro | 523 | 662 | 889 | 2.154 |
Novembro | 525 | 665 | 893 | 2.165 |
Dezembro | 528 | 668 | 898 | 2.176 |
O segredo dos juros compostos é que quanto maior a taxa real de juros e maior o período da aplicação, maior será a diferença quando comparado a aplicações com taxas menores e prazos mais curtos. Por outro lado, altas taxas de juros reais também estão associadas a alta volatilidade e, portanto, a maior risco no curto prazo.
O quadro abaixo mostra os resultados esperados para aplicações feitas por prazos e taxas de juros reais diversos. É interessante observar que, para o período de aplicação de 25 anos a diferença de rentabilidade entre uma taxa de 3% ao ano (poupança, por exemplo) e uma de 15% chega a incríveis 16 vezes o capital inicial.
Ou seja, uma aplicação inicial de R$ 100 mil obteria um saldo final real (descontado a inflação) de R$ 209 mil, quando aplicada a uma taxa de 3% real ao ano, por 25 anos, contra um saldo de R$ 3,3 milhões quando aplicada a uma taxa real de 15% real ao ano, pelo mesmo período.
Exemplos de aplicações em diferentes taxas reais de juros podem ser vistas abaixo:
Aplicação Inicial: R$ 100 mil
Valor real resgatado antes de impostos (R$)
Juros Reais (% ao ano) | ||||
Anos de Aplicação | 3% | 8% | 10% | 15% |
3 | 109.273 | 125.971 | 133.100 | 152.088 |
5 | 115.927 | 146.933 | 161.051 | 201.136 |
10 | 134.392 | 215.892 | 259.374 | 404.556 |
25 | 209.378 | 684.848 | 1.083.471 | 3.291.895 |
O maior desafio para se ganhar com os juros compostos é a paciência e a disciplina necessárias para manter aplicações de altos juros reais, normalmente associadas a alta volatilidade ou alto risco de curto prazo, por um longo período de tempo.
Uma dica de como obter esta disciplina é aplicar pequenas quantias mensais neste tipo de aplicação.
Outra dica é não concentrar uma parcela muito alta dos investimentos nesse tipo de aplicação, ou seja, é importante diversificar investimentos em aplicações em alto retorno de juros compostos com aplicações em renda fixa.
Victor Nehmi é engenheiro agrônomo e é gestor de um dos fundos mais agressivos do Brasil desde 2005 (Sparta Cíclico).
Olá Victor. Para acumular capital estou fazendo minhas primeiras aplicações em TESOURO SELIC e IPCA 2014 com pequenos aportes mensais. Será um boa estratégia para acúmulo de capital?
Prezado Alison,
A estratégia é boa sim. O Tesouro Direto é a melhor opção de investimento para pequenos aportes mensais, uma vez que oferece uma taxa média alta para aplicações sem limite mínimo de valor.
No entanto, quando você chegar a algo em torno de R$ 30 a R$ 50 mil, é válido aplicar 10% em aplicações que ofereçam juros reais mais altos e que aceitam aplicação inicial relativamente baixa. É o caso de vários fundos multimercados e de ações bem administrados disponíveis no mercado.
Com isso, a taxa de juros real média das suas aplicações ficará mais alta, acelerando o crescimento do seu patrimônio, devido ao efeito dos juros compostos, onde quanto mais alta a taxa de juros mais exponencialmente cresce o patrimônio aplicado.
E o inconveniente da volatilidade das aplicações em juros reais mais altos será mitigado pela renda fixa, que será a maior parte do seu portfólio de investimentos.
Att
Obrigado Victor. E o que vc acha dessa queda da selic? Precisamos nos preocupar?
Prezado Alison,
Atualmente, a taxa Selic está em aproximadamente 13,75% e representa quase 8% de juros reais ao ano. Isso é, talvez, a maior taxa real do Planeta. No caso do Brasil, historicamente, a taxa de juros real brasileira oscila entre 4 e 6% ao ano. Se o governo conseguir aprovar a PEC do Teto e uma reforma da Previdência com idade mínima de 65 anos para aposentadoria, as contas públicas passarão a indicar uma perspectiva de estabilidade e controle.
Nesse cenário os juros reais no Brasil devem recuar para algo em torno de 4 a 5% ao ano. Ou seja, nesse cenário, até o final de 2017 a taxa Selic deve recuar para 9 a 10%.
Isso levará os aplicadores a procurar investimentos um pouco mais arriscados, para compensar a queda do rendimento da renda fixa. É por isso que títulos indexados a inflação e ações estão em alta neste ano.
Victor, pensando na aprovacao da reforma da previdencia + PEC . Pode ser agora, um bom momento para comprar Tesouro LTN 12.3% para 3 – 4 anos? ja que devera se iniciar um processo de queda da Selic? abraço
Prezado Marcelo,
Se tudo correr bem com as reformas e a inflação, realmente a referida LTN pode ser uma boa alternativa, principalmente num prazo de 1 a 2 anos, onde pode haver uma queda mais acentuada da Selic. Nesse cenário esse título se valorizaria bastante.
Mas, dado o ambiente de incertezas atual, pode ser que as reformas não venham como o anunciado e nem a inflação fique controlada como atualmente. Nesse caso um título atrelado ao IPCA é melhor.
Em se tratando de um horizonte de 3 a 4 anos, preferiria o título indexado ao IPCA
Obrigado Victor, sempre aprendo algo mais lendo este blog. abraços
Olá, venho estudando um pouco sobre investimentos. Estou adquirindo um imóvel na planta. Tenho 20 mil na poupança, 7 mil irei usar para sinal, entrada, ipva, os outros 10 queria investir podendo ser liquidez diária ou podendo deixar lá e pegar depois, no entanto que fosse até 2019 que é quando a construtora diz q vai entregar as chaves.
No entanto, minha maior dúvida é se seria mais interessante amortizar o valor do imóvel por causa do INCC, ou existe algum investimento que eu possa fazer que lucre mais que o juros que vai estar correndo por causa do INCC.
Como estar na planta e não é obrigatório financiar agora, eu irei amortizando todos os meses, no que de acordo com meus cálculos irei pagar próximo a entrega das chaves,
Só que com uma parte do que sobrar, em torno de 500 a 1000 queria saber onde investir mensalmente no prazo de 6 anos.
Prezado Xará,
Estamos num momento de inflexão da tendência da inflação (INCC incluído) e dos juros. A perspectiva é que doravante inflação e juros continuem em queda. A longo prazo o INCC tende a se igualar ao IPCA. E os juros no Brasil tendem a se estabilizar em algo em torno de IPCA+5% ao ano, enquanto a Reforma da Previdência não for aprovada. Caso esta seja aprovada, é possível que os juros caiam para algo em torno de IPCA+4% ao ano.
De qualquer forma, aplicando em juros você deve ganhar do INCC, de forma que vale a pena aplicar os R$ 10 mil em títulos do governo, no Tesouro Direto ou em fundos de Renda Fixa que aceitem aplicações iniciais menores do que R$ 10 mil e aplicações intermediárias de R$ 1.000,00. Atualmente, os melhores títulos de renda fixa são os indexados em IPCA.
Bom dia, Vitor.
tenho 10,000 reais parado em poupança na caixa economica, gostaria de fazer um investimento a longo prazo( 10 anos) nao entendo nada de investimento, em que devo aplicar? como devo aplicar? estou vendo suas dicas a 2 dias e tambem vendo alguns videos da Easynvest. estou perdido e sei que estou perdendo oportunidade de ganhar algum dinheiro.
desde agradeço.
Prezado Fabiano,
Investimentos de longo prazo se baseiam no tripé rentabilidade, liquidez e risco. Quanto maior o prazo da aplicação, maior deve ser a rentabilidade que você conseguirá. Quanto maior a liquidez que você desejar na aplicação, menor será a rentabilidade que você vai conseguir. E quanto maior o risco que você estiver disposto a aceitar, maior a rentabilidade que a aplicação deve ter e que, provavelmente, você vai conseguir.
Você deve procurar uma aplicação que equilibre as 3 variáveis acima com o seu perfil de investidor (conservador, moderado ou agressivo). Supondo que você seja conservador, o ideal é aplicar num fundo que renda 98% do CDI com liquidez diária. Se você tiver um perfil moderado, o ideal seria comprar um título de longo prazo, atrelado ao IPCA, no Tesouro Direto, ou aplicar num fundo de investimentos de renda fixa com objetivo de 105 a 110% do CDI. Ambos tem menor liquidez, porém maior rentabilidade e um pouco mais de risco. Porém, se você tiver perfil arrojado, o ideal é aplicar 50% num fundo multimercado e 50% num fundo de renda fixa com objetivo de 105 a 110% do CDI. A liquidez será a mesma do moderado, a rentabilidade maior, porém o risco (medido pela volatilidade da oscilação diária das cotas) será também maior.
Olá Victor!
Preciso de uma ajuda. Atualmente, tenho 50 mil reais aplicado no tesouro IPCA vencimento 2019. Neste ano de 2017, conseguindo fazer algumas economias, talvez alcance 100mil.
– Pretendo utilizar esse valor apenas em 2020 aproximadamente. Como faze-lo render mais até lá? Tesouro IPCA é um caminho correto?
Obrigado
Prezado Alberto,
Como o prazo de seu investimento é longo, até 2.020, entendo que parte das suas aplicações poderiam ser alocadas em renda variável. Fundo multimercado macro de preferência. O percentual seria da ordem de 5% se você se considerar investidor moderado ou 10% se se considerar agressivo. O restante deve ficar em renda fixa, em títulos do Tesouro Direto, indexados ao IPCA, como já está. O objetivo de um pouco de renda variável seria conseguir uma rentabilidade composta média superior a que você conseguirá somente com a renda fixa. O risco é baixo, uma vez que o prazo que você tem para aplicar é longo.
Att
Victor
muito boa a materia, parabens!
quais seriam os investimentos, alem de titulos, os quais eu consigo um investimento inicial na ordem de 5k e aportes mensais de 1k, que trariam maior rentabilidade que tesouro direto? (levando em consideração rendimento de juros compostos)
Prezado Marco Aurélio,
Embora os títulos públicos de renda fixa tenham performado muito bem nos últimos anos, acredito que com a queda dos juros (nominais e reais), ocorrida recentemente as alternativas atuais para obter ganhos com juros compostos são os fundos multimercados e fundos de ações. Se você estiver otimista com o futuro da economia, procure aqueles que têm histórico de longo prazo com ganhos acima do CDI. Se você estiver pessimista com o futuro da economia, permaneça no tesouro direto.
Para o tamanho da aplicação citada, de aporte inicial de R$ 5.000 e mensais de R$ 1.000, existem algumas alternativas. Praticamente, cada gestor tem um fundo com esse perfil. Uma das opções é o Sparta Cíclico, no qual eu trabalho. Embora o resultado de 2.017 não tenha sido bom, o resultado médio dos últimos 12 anos é excelente. E estamos otimistas para 2.018.
Att
Victor