Usando a arquitetura de escolha para ajudá-lo a economizar

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Como um professor de Direito em Harvard, um Economista em Chicago, um caixa eletrônico e o buffet do seu restaurante por quilo predileto podem ajudá-lo a guardar dinheiro?

Existe alguma forma simples de guardar dinheiro todo mês?

Certamente você já ouviu várias receitas pra isso. Talvez gastar menos ou tentar ganhar mais seja um bom começo, mas é algo muito genérico. E, por ser genérico demais, é fácil arranjarmos desculpas para não cumprir esses objetivos (“eu sei que devo guardar um pouco este mês, mas faz tanto tempo que estou querendo comprar um celular novo… Mês que vem juro que guardo em dobro”).

Como você vê, uma solução com muitas desculpas não é boa. Uma boa solução precisa ser simples, específica, e precisa preservar o seu livre arbítrio. E, dentre as várias soluções possíveis, vou apresentar uma que, além de preencher esses requisitos, responde à pergunta da introdução.

Para começar, precisamos entender o conceito de arquitetura de escolha, criado por Cass Sunstein, professor de Direito em Harvard, e Richard Thaler, economista na Universidade de Chicago. No seu livro “Nudge: Improving decisions about health, wealth and happiness”, esses autores sustentam que os resultados das escolhas são influenciados pela maneira como elas se apresentam, isto é, pela arquitetura de escolha. Assim, se você é diretor de uma escola do ensino médio e quer incentivar seus alunos a comerem de forma mais saudável, pode “desenhar” uma disposição de pratos no buffet que facilite isso. Colocar a salada e os legumes depois das carnes e da sobremesa seria uma boa idéia? Ou melhor seria se os vegetais viessem em primeiro lugar, e as sobremesas ficassem num local de difícil acesso, longe da altura dos olhos, com uma fila específica desenhada para andar mais devagar que as outras? O dono de um restaurante por quilo também pode utilizar a arquitetura de escolha para maximizar seu lucro: já parou pra pensar por que as coisas “gostosas” (batata frita, pasteizinhos, churrasco, pudim) ficam no final do buffet? Mesmo quando você já pegou bastante comida, é difícil resistir a elas, não é?

A arquitetura de escolha está presente em quase todos os aspectos da nossa vida, embora nem sempre a notemos. Quantas vezes você já esqueceu o cartão do banco dentro do caixa eletrônico (ATM) ao sacar dinheiro? Eu diria que poucas, ou quase nenhuma, mas não necessariamente porque você é muito atento: talvez o fato de que você precise tirar o cartão antes de retirar o dinheiro tenha algo a ver com isso. Se a ordem fosse inversa, será que esquecer o cartão não seria mais comum?

De uma forma resumida, eu acredito que soluções baseadas em arquitetura de escolha são boas porque:

  • elas são simples e específicas: a ordem da retirada do cartão e do dinheiro e a disposição da comida são empurrõezinhos (nudges) simples, baratos e praticamente imperceptíveis, mas que atingem resultados significativos.
  • elas não retiram o seu livre-arbítrio: você não está sendo obrigado a comer melhor ou mais, tampouco sendo obrigado a não esquecer o seu cartão sob pena de multa. No fim das contas, você ainda tem a palavra final sobre os seus atos.

Existem arquiteturas de escolha boas (como a do cartão), ruins (uma disposição de buffet que incentive o consumo de comidas gordurosas, por exemplo) e arquiteturas de escolha que você sabe que foram criadas por pessoas sem amor ou compaixão pelo próximo (assinaturas de revista autorrenováveis e compras de um clique pela Internet são bons exemplos disso).

E existem aquelas que podem fazê-lo economizar.

Suas finanças pessoais são, em última análise, resultado de suas escolhas conscientes, mas elas podem se beneficiar de uma arquitetura de escolha melhor planejada. Exemplo disso são as aplicações automáticas que a maioria dos bancos permite fazer todo mês. Funciona assim: todo mês o banco se encarrega de transferir, para uma aplicação que você escolheu, uma quantia determinada por você. Você pode até escolher em que dia a aplicação será feita (por exemplo, transferir R$ 500 para uma poupança todo 5º dia útil do mês, nos próximos 6 meses).

Que tal programar hoje aplicações de parte do seu salário para os próximos 12 ou 18 meses num fundo adequado ao seu perfil, nos dias de pagamento de cada mês?

Com o tempo, você vai se acostumar com essa aplicação e encarar esse “gasto” (na verdade, investimento)  mensal como algo dado. Você não precisará lembrar todo mês de fazer contas e escolher quanto e em que fundo aplicar. De fato, uma vez agendadas as aplicações, quanto menos você pensar nelas, melhor: você estará economizando sem ter que passar pela escolha entre o consumo imediato e o investimento. Em eventual caso de urgência, você poderá cancelar o agendamento, liberando o valor para uso imediato.

Com uma pequena ajuda, um leve empurrão, você vai economizar com menos esforço e com controle total do seu livre arbítrio e do seu dinheiro.

Convidado: Luis Eduardo Takahashi formou-se em Direito pela USP e atualmente é Servidor Público Federal em São Paulo.

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15 COMMENTS

  1. E as aplicações com resgate automático? É um nudge que não joga a favor de poupar… Por um lado você não paga os juros extorsivos do cheque especial/conta garantida, mas por outro fica mais complicado controlar o seu limite, pode ir gastando à vontade…
    Uma alternativa seria deixar em aplicações com resgate automático apenas uma quantia adequada aos gastos de curto prazo.

    • Leo,

      Obrigado pelos comentários. No livro, o autor dá muitos outros exemplos e sugestões de uso desses “nudges”. Há até uma página do facebook ( http://www.facebook.com/Nudgeblog ) sobre o assunto, e lá as pessoas sempre contribuem com outros exemplos de aplicação.
      Compartilhe conosco se vc tem algum nudge que funciona!
      Abs!

    • Foi lendo Steven D. Levitt que meu interesse por Economia começou, portanto é uma honra ser comparado a ele, ainda que de forma exagerada 😉

      Abs!

  2. Olá Luiz, excelente texto. Uma ferramenta simples, porém não simplista. Fora sua forma de abordar o assunto, com exemplos do nosso dia-a-dia, o que facilita a absorção do conteúdo.
    Parabéns!

    Abraço.

    • Jônatas,

      Obrigado pelos elogios! Realmente, a idéia é essa: coisas simples, que a princípio podem até parecer “simples demais”, mas que nos ajudam a atingir o objetivo sem que nos demos conta.

  3. Um assunto muito invovador acerca da tão antiga arquitetura. Hoje vemos arquitetura da felicidade e agora arquitetura para economizar. Muito bom! Compartilhamos em nosso blog. Esperamos a parte 2 do texto.

    Grande abraço!

    Pirâmides Imobiliária