Ganhar mais dinheiro te faz mais feliz? Aparentemente não.

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Por que a grama do vizinho é sempre mais verde?

Ganhar mais dinheiro te faz mais feliz?

Aparentemente não.

Um estudo com surpreendente resultado feito por pesquisadores da Universidade de Warwick e de Cardiff demonstrou que o dinheiro só traz felicidade quando os seus colegas e vizinhos passam a ter menos dinheiro que você, isto é, quando apenas você passa a ter mais dinheiro.

Com este estudo chegamos à breve conclusão que é melhor ser o mais rico de um bairro pobre do que o mais pobre de um bairro rico.

Mas por que isso acontece?

Será que somos tão invejosos assim a ponto de só nos sentirmos felizes com a desgraça alheia?

Não é bem assim, mas temos que concordar que vivemos em um mundo de comparações no qual o relativo é mais importante que o absoluto.

O problema é que nosso inconsciente é dominado pelo nosso emocional, o que resulta em decisões irracionais.

Lembram-se do artigo sobre “quando mais pode ser menos”? Não importa se escolhemos uma boa opção e suficiente, mas tendemos a achar que o importante é escolher a melhor!

Não importa se estamos ganhando, tendemos a achar que o importante é ganhar mais que os outros.

Não entendeu ou não concorda? Seguem exemplos

Por que é que os times de futebol trocam tanto de técnico? Será que os técnicos dos outros times são tão melhores assim? Estudos indicam o contrário, que um técnico exerce pouca ou quase nenhuma influência no time no curto/médio prazo.

Será que contratar um presidente de uma concorrente solucionará todos os problemas de minha empresa? A diretoria exerce muito mais influência em uma grande empresa do que seu presidente, mas com certeza é muito mais fácil culpar e trocar uma pessoa do que investigar os motivos do insucesso.

Será que eu trabalho muito mais e ganho muito menos que alguém que desempenha o mesmo papel em outra empresa?

Salvo exceções, este é o maior exemplo do ditado “a grama do vizinho é mais verde”. Ou você já ouviu o seguinte comentário: “Eu trabalho muito pouco e ganho muito mais do que mereço!”?

E por que parece sempre que sua fila no supermercado ou faixa no trânsito é a que menos anda? Dica: não é por causa da Lei de Murphy.

Mas qual a relação de tudo isso com meus investimentos?

Ao fazer a opção pelo seu investimento, o investidor busca corretamente a melhor alternativa possível. O problema reside nas comparações somente emocionais e não racionais.

Completando o raciocínio iniciado no artigo do investidor bipolar, observa-se que o investidor considera “menos pior” perder quando todos perdem do que não ganhar quando todos ganham. Isto é, acha pior o fato da bolsa subir e sua ação se valorizar menos, do que a bolsa cair e sua ação desvalorizar junto.

Nesse momento fica claro que o relativo se sobrepõe ao absoluto. Como pode ser melhor perder do que ganhar?

Como evitar isso?

Antes de tomar uma decisão é preciso, em primeiro lugar, comparar investimentos compatíveis, com riscos compatíveis e em um prazo razoável (conforme explicado no artigo do benchmark).

Dependendo do período que se analisa, é possível chegar as mais diversas conclusões. Por exemplo, se compararmos um investimento em renda variável em um período negativo com o CDI, chegamos à conclusão que a segunda opção é melhor.

Mas será que ela é mesmo melhor? A resposta é: não, ela não é melhor nem pior, ela é diferente. Por isso que decisões de investimento não devem ser baseadas apenas em resultados passados, e sim em expectativas de resultados futuros.

Em segundo lugar, o fato de uma ação que você comprou ou um fundo que você investiu estar perdendo dinheiro não significa que foi um mau investimento, e vice versa.

Tome cuidado com decisões baseadas apenas em resultados passados e evite mudar constantemente seus investimentos.

Lembre-se que na prática não existem os termos “realizar lucro” ou “realizar prejuízo”.

O passado não pode ser mudado, mas o futuro sim, pois ele será resultado de suas escolhas.

Mais uma vez a disciplina se demonstra importante, assim como não tomar decisões por impulso, pois muitas vezes elas são corrompidas pelo seu emocional, que é acostumado a fazer comparações irracionais.

Vitor Nagata é editor do Blog do Investidor e profissional da área de investimentos.

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10 COMMENTS

  1. Parabens pelo blog q tem uma causa super nobre.Uma dica (e um pedido) seria q vcs nao seguissem o mesmo modelo dos outros blogs de investimento e nos mostrassem alternativas e ideias concretas pra enriquecer,ao inves de ficar no “eh importante investir e saber investir”.acho q há esse campo pra ser explorado.

    • Muito obrigado Aline! Pedido (para não falar desafio) aceito.
      Ainda estamos no início do blog, por isso estamos focando em temas iniciais para mais adiante podermos focar mais em idéias concretas de investimento.
      Um abraço!

  2. here is my contribution:

    1. “They say money can’t buy happiness? Look at the fucking smile on my face. Ear to ear, baby. Anybody who tells you money is the root of all evil doesn’t fucking have any. ” – Boiler Room, a great movie if you haven’t watched it, do it.

    2. “Por isso que decisões de investimento não devem ser baseadas apenas em resultados passados, e sim em expectativas de resultados futuros.” – that was the problem with LTCM’s model.

    • Obrigado pela contribuição Rafael, vou assistir este filme assim que puder! Apesar de polêmico, eu concordo bastante com o quote. Se o objetivo de alguém é ficar rico, ganhar dinheiro obviamente trará felicidade! O interessante é que, para pessoas que já possuem dinheiro, o grau de felicidade não aumenta com *mais* dinheiro, isto se os outros ganharem mais. Ou seja, a pessoa não se satisfaz com o fato de ganhar mais, ela tem que ganhar mais que o outro.
      Sobre a LTCM, não sei se este foi o único problema, mas com certeza foi um principais. Em minha opinião o maior problema, e que gerou todos os outros, foi a prepotência do Meriwether e cia. No momento em que eles se sentiram invencíveis a lógica, a inteligência e a estatística foram deixadas de lado. Esse exemplo demonstrou que até em gênios o emocional corrompe o racional.
      Um abraço!

  3. Olá Vitor,
    Ao contrário da leitora Aline, gosto do diferencial do blog. Ele trás artigo mais filosóficos que nos fazem pensar.

    Abraço!

    • Olá Jonatas!
      Acredito que podemos abranger tanto a parte mais filosófica como a parte mais prática. Aliás, se tiver alguma idéia de artigo ou tiver escrito algo interessante que queira compartilhar conosco sinta-se a vontade! Como eu já falei, nossos blogs de completam.
      Abs!

  4. Para quem se interessou, um livro clássico que fala bastante sobre esse assunto é o “Pai Rico, Pai Pobre”. O autor define que rico é aquele cujo rendimento do patrimônio é capaz de bancar seus gastos, ou seja, não depende do suor do dia-a-dia pra pagar as contas no fim do mês (e não o cara que tem o maior salário da turma). Para conquistar a riqueza, o autor diz que pode ser até trabalhando mais, mas que o mais fácil é gastar menos, gastar melhor, e investir melhor.
    Parabéns pelo artigo.
    Abs

    • Este livro é clássico e, apesar de não ser o livro mais bem escrito que já li, é altamente recomendado para qualquer pessoa que possua interesse pelo assunto.
      Agradeço pela colaboração!
      Abs!

  5. Olá, Vitor!

    Parabéns pelo blog!Excelentes artigos!

    Nesse artigo, eu fiquei pensando, fazendo uma analogia com nota de prova, a mesma coisa parece acontecer(é melhor tirar nota ruim quando toda a classe vai mal do que tirar uma nota mediana quando toda a classe vai bem).

    Eu acho que nesse ponto, é aquela velha história do ser humano tentar jogar a culpa para fatores externos(momentos turbulentos na economia ou, no caso da nota, ninguém entendeu bem uma certa matéria).

    A partir do momento em que a culpa começa a desviar-se do coletivo e vai para o lado individual, aparentemente o nível da situação vai de melhor a pior(tomando a pessoa como referencial).

    Agora, mais como uma sugestão, o que você acha de um post sobre a influência de gastos pequenos(valendo-se de um lugar comum, o pão com manteiga na chapa com um café expresso) em um balanço de final de mês/ano?Ainda que seja um assunto abordado com uma relativa frequência, é um problema que frequentemente passa desapercebido.

    Ou, senão, um post sobre alternativas de compras(vale a pena comprar o novo ou o usado, como livros em um sebo, também pode ser considerado?)

    Abraços,
    Rafael

    • Rafael, o seu exemplo das notas é perfeito! Acredito que todos já devem ter passado por esta situação!
      Muito obrigado pelas sugestões, vou pensar em artigos sobre estes assuntos!
      Abs!