Quando mais pode ser menos

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E agora: que queijo escolher?
E agora? Qual queijo combina melhor com vinho tinto?

Quando escolhemos algo, é natural deduzir que a existência de mais opções leva a uma escolha melhor e, portanto, a maior bem estar. Afinal, com mais opções, a qualidade dos produtos tende a aumentar e, munidos de informação, podemos compará-los e chegar àquele que seguramente nos trará maior utilidade. Isso, em certa medida, é óbvio. Assim mesmo, neste artigo vou ousar sustentar que, em alguns aspectos, mais opções significam pior resultado. Para isso, vou apresentá-lo a duas pessoas, Maximus e Modestos.

Maximus é alguém que poderíamos classificar como um maximizador de escolhas. Ele sempre quer a melhor opção, a número 1. Se dermos a ele R$ 80.000 para comprar um carro, ele certamente fará extensas pesquisas sobre os carros nesta faixa de preço. Dentre as opções que sobrarem, ele não se contentará com qualquer uma, apenas com a melhor: o carro de melhor custo/benefício, com maior potência, menor consumo, mais itens de segurança e opcionais e maior valor de revenda. Considerando que, na vida, sempre há um trade-off entre as escolhas, ao final percebemos que o carro com melhor desempenho pode ser o de maior consumo; maior valor de revenda pode estar associado a uma marca mais tradicional e, portanto, mais cara, e assim por diante.

Modestos, por sua vez, é um rapaz, bem, modesto. Não no sentido ruim, mas no sentido de que, para ele, “bom o suficiente” já basta. Se dermos a ele os mesmos R$ 80.000 para comprar um carro, ele definirá algumas características que busca no carro e, dentre as opções que restarem nessa faixa de preço, escolherá aquela que lhe parece melhor, sem dedicar tempo demais à escolha.

A diferença entre os dois está na forma de encarar a escolha e as suas consequências: para Maximus, a escolha tem que ser necessariamente a melhor, ou seja, a segunda opção não satisfaz; para Modestos, qualquer escolha boa o suficiente já o contenta. Maximus dedica tempo demais à escolha, e isso o prejudica. Se montarmos uma escala de utilidade que vá de 0 a 10, com zero equivalente a uma escavadeira subterrânea russa e 10 ao carro perfeito, isto é, que tenha todos os opcionais, com baixos preço e consumo, altos desempenho e valor de revenda – este carro não existe no mundo real, por sinal – veríamos que Modestos se contentaria com qualquer carro acima de, digamos, 8,5. Já Maximus só se contenta com aquilo o mais próximo possível de 10. Ao encontrar um carro bom o suficiente, Modestos faz sua escolha; Maximus só consegue fazê-la depois de olhar todas as opções. Ocorre que uma diferença de 1 ponto nesse patamar já elevado não compensa os custos de transação e de oportunidade que Maximus tem de suportar. Ele tem medo de fazer a escolha, pois tem a sensação de que, em algum lugar, existe algo melhor. E, atualmente, é bem provável que algo melhor realmente exista (quantas opções surgiram, nos últimos anos, entre os diversos tipos de bens de consumo e serviços, em comparação às opções existentes algumas décadas atrás?). Apesar de Maximus possivelmente terminar fazendo uma escolha melhor do que a de Modestos, perceba que ele não só incorre em mais custos para tanto, como ele também está, paradoxalmente, mais insatisfeito que Modestos, pois seu foco está no que faltou para atingir a perfeição, e não naquilo que já obteve.  Paralisado diante de tantas opções parecidas, ao final Maximus tem grande chances de se arrepender; Modestos simplesmente aproveita as vantagens de estar motorizado e faz as coisas que o carro agora lhe permite fazer –  exceto, talvez, das 7h às 10h e das 17h às 20h do dia de rodízio.

Os exemplos descritos se aplicam a vários outros aspectos de nossas vidas, isto é, desde as escolhas mais triviais (iPhone, Blackberry, Samsung, Nokia, Sony Ericsson ou Motorola?) às mais importantes (“ devo aceitar aquela nova proposta de emprego?”). Em relação às finanças pessoais, sabemos que cada banco tem dezenas de fundos de investimento e, multiplicando pelo número de bancos e gestores independentes, temos centenas, senão milhares, de opções de investimento apenas no mercado financeiro. Essa quantidade assustadora, à primeira vista, pode causar certo desconforto, se você é como Maximus: “como sei que estou escolhendo o fundo certo?”. Mais grave que o simples desconforto, pode causar até uma certa paralisia de decisão. E dinheiro parado, como você já sabe, significa prejuízo. Se você está disposto a investir, mas não sabe por onde começar, que tal ser mais como Modestos e definir três ou cinco características que você considera importantes? Pense em fatores como o nível de risco, a taxa de administração, a liquidez, a alavancagem, expectativa de retorno, enfim, qualquer aspecto que, para você, seja prioritário. Com sua lista de prioridades em mãos, você poderá decidir tranquilo, evitando a paralisia de escolha, focando os esforços em outros aspectos que melhorem seu bem estar financeiro, como o corte de gastos, o planejamento de longo prazo e, é claro, a leitura deste blog.

Convidado: Luis Eduardo Takahashi formou-se em Direito pela USP e atualmente é Servidor Público Federal em São Paulo.

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12 COMMENTS

  1. Outro exemplo do dia a dia: nos restaurantes que tem milhares de opções no menu, são tantas que não sabemos o que escolher. A solução mais frequente: não escolher nenhum, pedir uma sugestão pro garçom. Já aquele restaurante que tem uma massa, uma carne ou um peixe, a escolha é rápida e satisfaz.

  2. E quando vc escolhe, sempre fica entre dois ou três pratos. Quando o seu chega, o da pessoa da mesa ao lado também chega, e vc vê que ela pediu o que vc deixou de pedir – pior, parece muito melhor. Daí bate o arrependimento… “eu sabia que devia ter pedido aquilo” – hindsight bias?

  3. Excelente artigo, fiz uma analogia com o ótimo de Pareto. Ou seja,decidir entre todas as opções existentes realmente é bem complicado, o ideal é escolher aquela que maximiza seu bem estar.

    Abs

      • YES! Unfortunately, because some peploe don’t have enough sense to NOT put their faces in front of the faces of unknown dogs, the rest of the dogs must pay the price. i.e. dogs are no longer allowed in Home Depot or Lowes. This also reminds me of the lady who got bitten in the eye by her neighbour’s dog. The dog is being put down, if it hasn’t happened already. It is very sad that the dog has to pay the ultimate price. The lady knew the dog was a rescue and had just been adopted. I don’t understand why peploe still put their faces where dogs can bite it . it’s just common sense!