Por que, de vez em quando, tomamos algumas decisões de investimento (digamos, a compra de uma ação de alto risco) e, quando elas não dão certo, pensamos “eu sabia que isso era uma bomba…”? Ou por que, segunda-feira de manhã, aquele seu colega de trabalho fala com tanta propriedade sobre os motivos que levaram o time dele a perder no domingo, xingando o técnico e os jogadores pelas falhas óbvias dentro e fora de campo? Nós somos realmente tão ingênuos a ponto de comprar uma ação que sabemos que vai cair? Seu colega é um boleiro tão bom que deveria repensar uma nova carreira como técnico de futebol? Não, deve haver outra explicação. Viés de retrospectiva, muito prazer!
Não me atrevo a tentar definir conceitos complexos em duas linhas. Mas, para os fins deste artigo, acho suficiente entender o viés de retrospectiva (hindsight bias) como a predisposição que temos para considerar eventos já acontecidos como mais previsíveis do que considerávamos anteriormente. Explicando melhor: depois que a coisa aconteceu, nós encontramos os agora óbvios motivos, reforçando-os, e minimizamos aqueles motivos que nos faziam acreditar no contrário. No caso do investimento citado, depois do ocorrido parece óbvio que a ação era uma bomba (“a empresa não estava firmada no mercado, a concorrência estava muito forte, os diretores inexperientes tomaram decisões erradas e etc”), mas se o preço dela tivesse disparado, você possivelmente estaria usando as mesmas premissas para explicar o sucesso: “empresas novas têm maior potencial de ganho. Ainda que a concorrência estivesse forte, os diretores jovens e inovadores fizeram toda a diferença”. Soa familiar? Aposto que sim. Já quanto ao seu colega de trabalho… Bem, algumas coisas não mudam. Duvido que você vá conseguir convencê-lo. Como já dizia a música tema da copa de 94, “na torcida são milhões de treinadores…”
O grande problema desse tipo de viés é que acabamos não aprendendo com os erros e acertos. Podemos comprar uma ação acreditando que ela vá subir em dois anos por um motivo X (digamos, aumento nas vendas da empresa), e na verdade depois ela sobe por um motivo Y (por exemplo, falência do maior concorrente). Dois anos depois, é difícil lembrar o motivo pelo qual você apostou naquela empresa. E é provável que você pense que acertou pelo motivo em que acreditava, tornando-se mais confiante e esquecendo que pode ter sido sorte.
Como evitar isso? No dia a dia, é difícil. Mesmo conhecendo o conceito, você, eu, psicólogos, economistas, aspirantes a técnico de futebol e CEOs continuaremos todos a cometer o mesmo tipo de erro nos assuntos cotidianos. Mas em investimentos, algo pode ser feito: por que não começar um diário? Não precisa ser um da Hello Kitty, como o da sua sobrinha; uma tabela do Excel já é o suficiente. Quando for comprar uma ação, especular com imóveis, enfim, fazer qualquer tipo de investimento, que tal, neste mesmo dia, anotar por que você acredita que aquilo será um bom investimento? Anotar também quais são as coisas que te preocupam (riscos), o grau de confiança que você tem de que aquilo é uma boa ideia (66%? 85%?) e a expectativa de ganho? Enfim, são muitas possibilidades. Depois, na hora de vender a ação, realizar o lucro/prejuízo, você terá uma ideia exata do que o levou à decisão da compra em primeiro lugar. Custa alguns minutos de trabalho e uma mínima organização, mas o benefício de aprender com seus erros e acertos é enorme. Mais do que isso, pode gerar, futuramente, mais acertos.
Convidado: Luis Eduardo Takahashi formou-se em Direito pela USP e atualmente é Servidor Público Federal em São Paulo.
No dia a dia, a frase “Era só ter (…)” representa muito bem tudo isso… rsrs.
Belo artigo, parabéns!
Abs
Antes de ler este artigo estimava 93% de probabilidade de que quando o terminasse ia saber o seu conteúdo. Anotei na minha planilha de Excel e vou agora indicar lá que minha especulação estava correta.
Pode parecer óbvio em hindsight… but that’s how it works!
muito bem, Ilan, já tá aprendendo. Mas pode usar um diário da Hello Kitty tb.
Estou usando o Hello Kitty Excel — caderninho é coisa do passado!
Quando o ibov atingiu 30k, era tão óbvio que se voltasse a 45k, a valorização chegasse a 50%, ou 100% em 60k… o problema é chegar no x = 30k… para alguns, a conta foi 50k, para outros 20k… realmente é díficil ganhar todas!
[…] visto no artigo sobre viés de retrospectiva, lembre-se qual foi o real motivo para você ter comprado aquela ação e se ele ainda existe. […]
[…] achar as informações negativas que queremos. Se, no final das contas, acertarmos, utilizaremos o viés de retrospectiva para sustentar ainda mais nosso viés de confirmação: “Não […]
[…] pensamos: como eu não vi isto se era tão claro. O blog do Investidor publicou um texto intitulado Parecia tão óbvio. Então por que falhou? Recomendo a […]
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